Mais próximo do cão do que do lobo. A estranha odisseia do dingo

Fotografia: David Clode/Unsplash

Os dingos, uma espécie nativa da Austrália, que se assemelham a cães de rua mas que são geneticamente diferentes, têm mais semelhanças genéticas com os cães do que com os lobos, de acordo com um estudo científico publicado na sexta-feira na revista Science Advances.

Venerados pelos aborígenes e odiados pelos agricultores, os dingos são os principais predadores da Austrália desde que os tigres da Tasmânia acabaram extintos no século passado.

“A posição do dingo na escala da evolução tem sido motivo de desacordo há algum tempo”, disse à AFP o co-autor do estudo Bill Ballard, das universidades La Trobe e Melbourne.

Alguns argumentam que os caninos esguios e de cor de canela, trazidos para o continente há mais de cinco mil anos são semelhantes aos cães domésticos.

O novo estudo, do qual participaram 26 autores de 10 países, comparou o genoma de uma fêmea de dingo do deserto chamada Sandy, que foi resgatada em 2014, com o de cinco raças de cães e com o do lobo da Gronelândia.

Os cientistas descobriram que o genoma do dingo é estruturalmente diferente do genoma do boxer, pastor alemão, basenji, dogue alemão e do labrador.

Porém concluíram que o genoma de Sandy tem mais semelhanças com cães, especialmente com o pastor alemão, do que com o lobo da Gronelândia: “Sandy, a dingo do deserto, fica numa posição intermediária entre o lobo e o cão doméstico”, concluiu Ballard. Para ter ainda mais certeza, a equipe está a sequenciar o genoma do dingo alpino, uma raça que vive nos Alpes australianos, no leste do país.

Saber mais sobre a evolução dos dingos pode fornecer informações sobre a história dos povos que os trouxeram através do mar a partir do Sudeste Asiático: “A determinada altura, a espécie teve de cruzar a água com povos nómadas”, disse Ballard. “Não sabemos se eram aborígenes australianos ou se eram pessoas que tiveram contacto com aborígenes”, acrescentou o investigador.

Quando terminarem de sequenciar o genoma do dingo alpino, a equipa espera aprender mais sobre a cronologia e esclarecer se foi uma migração única ou múltipla.

A exemplo do que sucede com o lobo na América do Norte, os dingos despertam opiniões opostas: idolatrados pelos moradores da cidade e desempenhando um papel importante na cultura indígena, são odiados pelos agricultores por caçar o gado.

De acordo com Ballard, os dingos evoluíram para caçar pequenos marsupiais e não podem digerir facilmente alimentos com alto teor de gordura, o que significa que os cordeiros são mais propensos a serem a presa preferida de cães selvagens ou híbridos.

A teoria deverá ser testada no futuro para livrar o dingo da sua má reputação.

 

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