O presidente do Sri Lanka, Gotabaya Rajapaksa, convidou esta segunda-feira a oposição a entrar para um governo de unidade, numa altura em que se sucedem os protestos que pedem a sua renúncia, devido ao agravamento da crise económica na ilha.
“O presidente convida todos os partidos políticos do Parlamento que aceitem cargos no gabinete a se unirem num esforço para procurar soluções para a crise nacional”, anunciou a sua assessoria num comunicado, após o governo ter pedido a demissão no domingo. Milhares de pessoas participaram em novas manifestações espontâneas esta segunda-feira em várias cidades do país.
Na noite de domingo, o governo do Sri Lanka renunciou por completo, com excepção do presidente e do primeiro-ministro Mahinda Rajapaksa, irmão mais velho de Gotabaya.
Na segunda-feira, o presidente do Banco Central também anunciou a sua demissão, num dia em que a Bolsa de Colombo abriu com perdas de 5,92 por cento, devido ao clima de incerteza económica. O mercado financeiro interrompeu as suas operações por meia hora, com um mecanismo técnico para fazer face ao caos.
Esta ilha de 22 milhões de habitantes, no sul da Índia, está a sofrer uma grave escassez de alimentos, de combustível e de outros itens essenciais, além de acumular uma inflação recorde e apagões generalizados. Trata-se da pior crise nacional desde a independência face ao Reino Unido em 1948.
O governo pediu ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI), mas as negociações podem arrastar-se até o final do ano.
Novos ministros
Nesta segunda-feira, o presidente nomeou novamente quatro dos actuais ministros, incluindo três que voltam a ocupar os seus cargos antigos. Também substituiu o seu irmão Basil na pasta das Finanças pelo antigo ministro da Justiça.
Os outros cargos vagos do governo serão decididos após negociações com a oposição, declarou Rajapaksa, apesar de a oposição não ter reagido até ao momento.
Para os analistas políticos, a proposta de um governo de unidade não é suficiente para resolver a crise económica nem para restabelecer a confiança no governo de Rajapaksa: “É como reorganizar as espreguiçadeiras do Titanic”, disse à AFP Bhavani Fonseka, analista política e advogada, especialista em direitos humanos. “É uma piada”, afirmou.
Para Viktor Ivan, comentarista político entrevistado pela AFP, uma reorganização ministerial não é aceitável quando o povo exige a renúncia de Rajapaksa: “O que é necessário é um programa de reforma sério, não só para relançar a economia, mas também para enfrentar os problemas da governação”, destacou.
Novas manifestações
As autoridades colocaram o exército e a polícia em estado de alerta máximo, depois de terem recebido informações dos serviços secretos que advertem para a possibilidade de ocorrerem novos incidentes, disse à AFP uma fonte de das forças de segurança.
Milhares de pessoas manifestaram-se nas ruas de Tangalle, uma cidade no sul do país e reduto dos Rajapaksa, para pedir a renúncia da família, de acordo com a polícia.
Apesar do recolher obrigatório imposto para o fim de semana depois de uma multidão ter tentado invadir a casa do presidente na quinta-feira, centenas de pessoas voltaram às ruas em várias cidades da ilha para protestar, na noite de domingo, contra a gestão da crise por parte do Executivo de Rajapaksa.
O toque de recolher obrigatório, que durou o dia todo, impediu a organização de manifestações mais importantes, graças ao bloqueio das redes sociais Twitter, Facebook, Whatsapp, YouTube e Instagram, denunciou a principal aliança da oposição, a Samagi Jana Balawegaya (SJB).
A censura das redes sociais foi retirada mais tarde, ainda no domingo, após ser considerada ilegal pela Comissão de Direitos Humanos. Activistas afirmaram que os protestos pela renúncia de Rajapaksa e do seu clã vão acontecer, nesta segunda, em várias cidades importantes do país.
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