Uma mulher invadiu na noite desta segunda-feira o telejornal de maior audiência na Rússia, exibindo uma faixa em que criticava a ofensiva militar na Ucrânia. Trata-se de um protesto incomum num país onde as informações são controladas.
De acordo com a organização de defesa dos direitos dos manifestantes OVD-Info, a manifestante, Marina Ovsiannikova, é funcionária da estação de televisão. A organização informou que a mulher foi detida e transportada para uma esquadra da polícia.
O protesto ocorreu durante o principal noticiário nocturno da rede Pervy Kanal, chamado “Vremia”, acompanhado por milhões de russos desde a época soviética. Enquanto a apresentadora Ekaterina Andreieva falava, Marina surgiu por trás, exibindo um cartaz que dizia “Não à guerra. Não acreditem na propaganda. Estão a mentir-lhe aqui. Os russos são contra a guerra”.
https://www.youtube.com/watch?v=yhVqVZMPDJE
A apresentadora continuou a falar por alguns segundos, enquanto a manifestante gritava: “Não à guerra!”. Em seguida, a rede exibiu uma reportagem sobre hospitais, cortando as imagens do estúdio: “Uma investigação interna sobre o incidente está a ser conduzida”, declarou a emissora. Num vídeo gravado previamente e divulgado pela OVD-Info, Marina explica que, pelo facto de o seu pai ser ucraniano, e a sua mãe, russa, ela não vê os dois países como inimigos: “Infelizmente, trabalhei para a Pervy Kanal nos últimos anos, a fazer propaganda para o Kremlin. Hoje, tenho muita vergonha disso”, diz a funcionária. “Tenho vergonha de ter permitido que mentiras fossem ditas pela televisão e de ter permitido que o povo russo fosse ‘zumbificado’.”
O vídeo espalhou-se pelas redes sociais, e muitos internautas elogiaram “a coragem” de Marina, num contexto de forte repressão contra qualquer forma de dissidência.
Na tentativa de controlar qualquer informação sobre o conflito, autoridades bloquearam a maioria dos meios de comunicação independentes e as principais redes sociais, como Twitter e Facebook. A maioria dos russos só tem acesso à versão do governo e a de veículos como a Pervy Kanal sobre a “operação militar especial” destinada a “desnazificar” a Ucrânia e impedir “um genocídio”.
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