A Rússia faz uso há anos de ataques cibernéticos no conflito contra a Ucrânia, mas a invasão ao país vizinho provocou agora uma reacção sem precedentes entre hackers ucranianos que se solidarizam desde o exterior.
O maior ataque através da internet contra a Ucrânia ocorreu em 2017, quando foram paralisados os sistemas informáticos do metro de Kiev, dos portos ucranianos, de empresas do sector energético e várias agências estratégicas do Governo ucraniano.
O ataque ocorreu por intermédio “do software de contabilidade usado por instituições e muitas empresas na Ucrânia”, contou à Agência Efe em Bucareste, capital da Roménia, Bogdan Botezatu, especialista da Bitdefender, uma empresa romena de cibersegurança que em 2017 foi a primeira a lançar o alerta após ter clientes afetados.
Os e-mails com os quais o vírus foi injetado foram enviados em horários que coincidem com o horário normal de trabalho no fuso horário de Moscovo, indicando que foram enviados por instituições públicas russas: “Há muitos países neste fuso horário, mas quantos outros têm a capacidade cibernética de criar uma ameaça tão sofisticada?”, indagou Botezatu sobre o que é considerado o ataque cibernético de maior envergadura da história.
Novos ataques antes da invasão
Um dia antes da Rússia começar a invadir a Ucrânia, a 24 de Fevereiro, Kiev sofreu novamente um ataque em grande escala que desactivou os sistemas dos bancos e sites do Governo.
O ataque foi um DDoS, ou negação de serviço, quando hackers assumem o controlo de sistemas informáticos ligados a dispositivos como câmaras de vigilância, sistemas de iluminação ou mesmo aspiradores que são operados por controlo remoto.
A partir destes sistemas, os hackers lançam simultaneamente uma avalanche de pedidos para ligar estes dispositivos ao computador da vítima, de modo a que o sistema da vítima não consiga comportar a procura e entre em colapso.
Um grupo organizado de criminalidade cibernética dedicado a exigir resgates pelos computadores que bloqueou colocou-se à disposição do Kremlin para ajudar nos esforços de guerra da Rússia na internet, afirmou Botezatu.
Conhecido como Conti, o grupo goza de impunidade na Rússia e nos Estados pró-russos em troca de não atacar utilizadores dentro da esfera de influência russa, os quais identifica por IP ou pela utilização do teclados em cirílico: “Em geral, os grandes operadores de resgate (sequestro de dados) estão no espaço ex-soviético porque a Europol e a Interpol não conseguem contactá-los”, explicou o especialista da Bitdefender.
Reacção a favor da Ucrânia
A 24 de Fevereiro, o grupo hacker Anonymous declarou “guerra cibernética contra o Governo russo” pelo Twitter. Desde então, o grupo reivindicou ataques do tipo DDoS contra instituições e meios de comunicação russos.
O Anonymous também invadiu canais de televisão estatais russos para inserir imagens de guerra censuradas pelo Kremlin e transmitir canções patrióticas ucranianas e até interceptou e divulgou comunicações militares russas.
Foram publicadas instruções online para as pessoas simpatizantes da Ucrânia disponibilizarem os seus sistemas informáticos a um grupo de hackers para a realização de ataques DDoS contra a Rússia.
Um exército inteiro de hackers voluntários foi criado na Ucrânia para defender os sistemas informáticos do país e atacar os russos, enquanto um membro ucraniano do Conti divulgou conversas de dentro do grupo ao longo de 13 meses.
A União Europeia (UE) também criou uma equipa de ciberresposta rápida de lituanos, croatas, polacos, estonianos, romenos e holandeses para ajudar a Ucrânia.
Na Roménia, a Bitdefender começou a oferecer assistência gratuita à Ucrânia e aos países da NATO contra possíveis ataques russos: “É esperado que estas ameaças se espalhem também aos países da NATO”, advertiu Botezatu.
Durante a era comunista, a União Soviética e os seus satélites europeus especializaram-se no roubo e engenharia inversa de produtos cibernéticos desenvolvidos no Ocidente. Isto tornou a Rússia, a Ucrânia e vários países do centro e do leste da Europa num terreno fértil para a guerra cibernética.
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