Duas universidades de Hong Kong retiraram na sexta-feira (24) esculturas que recordavam o massacre da Praça da Paz Celestial em Pequim, um dia depois de a instituição académica mais antiga da cidade ter feito o mesmo.
A antiga colónia britânica, que devia manter um estatuto de semi-autonomia até 2047, depois de ter sido devolvida à República Popular da China em 1997, era – a par de Macau – o única local da China em que a evocação do massacre de Tiananmen, ocorrido a 4 de Junho de 1989, era tolerado.
Mas na sequência das grandes manifestações pró-democracia que tiveram a cidade como palco em 1989, as autoridades reprimiram vigílias e actos memoriais. Os activistas que organizavam as iniciativas foram punidos e condenados a penas de prisão.
Na quinta-feira, a Universidade de Hong Kong (UHK), a mais antiga da cidade, retirou do seu campus o “Pilar da Vergonha”, uma escultura de oito metros de altura com a representação de 50 rostos angustiados e corpos dilacerados empilhados uns sobre os outros em homenagem aos manifestantes falecidos em Junho de 1989.
Na sexta-feira, a Universidade Chinesa de Hong Kong (CUHK) retirou do seu campus a estátua conhecida como “Deusa da Democracia” de Chen Weiming, uma réplica da escultura gigante que os estudantes ergueram na Praça da Paz Celestial em 1989.
A CUHK explicou que retirou a estátua porque “não estava autorizada”, após uma avaliação interna, e afirmou que os responsáveis pela instalação em 2010 já não fazem parte da administração da instituição de ensino superior.
O autor da obra, que mora nos Estados Unidos da América, acusou a CUHK de actuar como “um ladrão à noite”, aproveitando o facto de que o campus está vazio devido à paragem de Natal: “É o contrário de ser limpo e honesto. Eles têm medo de serem expostos e o tiro saiu pela culatra na frente de alunos e de antigos alunos”, disse Chen Weiming.
O artista afirmou que a obra estava na Universidade por empréstimo e que vai iniciar um processo caso a escultura tenha sido danificada.
Weiming pretende solicitar o envio da estátua para a a Califórnia, onde é diretor do Liberty Sculpture Park.
Na mesma noite, a Universidade Lingnan de Hong Kong removeu outra escultura que recordava o massacre.
Lingnan afirmou que a obra poderia representar “riscos jurídicos e de segurança” para a comunidade universitária.
Pequim e as autoridades locais de Hong Kong tentam remodelar a cidade à imagem do regime comunista chinês, com a repressão da dissidência e a perseguição aos opositores.
Recordar o massacre da Praça da Paz Celestial tornou-se um gesto ilegal e as vigílias com velas que recordavam o facto na noite de 4 de Junho foram proibidas nos últimos dois anos.
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