Os tradicionais arraiais de Santo António, em Lisboa, quando os bairros saem à rua ao som da música e do cheiro de sardinhas assadas, foram cancelados devido ao receio dos excessos e dada a situação epidemiológica, segundo anunciou esta terça o presidente da Câmara da cidade, Fernando Medina.
“Infelizmente este ano não vamos poder ter arraiais dada a situação que vivemos”, apontou Medina. “É a decisão mais sensata, avisada nesta fase da pandemia em que são precisos ainda cuidados, são precisos alertas”, ressaltou o autarca.
Assim, embora as celebrações em si não estejam canceladas, os arraiais terão que esperar mais um ano, até 2022, para voltar às ruas lisboetas: “Teremos que, infelizmente, esperar mais um ano para poder celebrar novamente o Santo António com a alegria de que a cidade gosta”, disse Medina.
O presidente da Associação de Colectividades do Concelho de Lisboa (ACCL), Pedro Franco, mostrou-se também contrário à celebração de arraiais nos Santos Populares: “Acho que está muito bem que não se realizem. Se fossem feitos, teria sido o primeiro a atacar a Câmara de Lisboa”, disse Franco.
De acordo com o presidente da ACCL, as festas não devem ser organizadas porque demoram “um tempo” a serem preparadas, tempo do qual já não dispõem.
Além disso, pediu aos cidadãos que se mantenham alerta com a pandemia porque a doença “não é uma brincadeira: “Não podemos dizer que temos que fazer eventos em Lisboa porque o Porto fez. As pessoas podem reclamar, podem fazer o que quiserem, mas têm de ter em conta que isto não é uma brincadeira, que isto mata”, denunciou.
Franco refere-se assim à final da Liga dos Campeões no Porto no passado fim de semana, que foi alvo de grandes críticas devido aos excessos que se viram nas celebrações antes e depois do encontro entre o Chelsea e Manchester City.
A Câmara do Porto também anunciou que vai manter as suas celebrações de São João, a 23 de Junho, mas com restrições e em locais assinalados.
Estes excessos causaram uma tempestade política no país porque, embora o primeiro-ministro, António Costa, tenha destacado que 9.800 dos 12.000 adeptos respeitaram a “bolha” sanitária criada, muitos ingleses já tinham chegado ao país nos dias anteriores como turistas.
Apesar de todas as garantias sanitárias anunciadas, isso não impediu que durante a noite se vissem grandes aglomerações na cidade, com turistas que não respeitavam a distância social ou o uso de máscara obrigatório.
As reacções não se fizeram esperar: as autoridades sanitárias lamentaram o “mau exemplo” pela tolerância que as forças policiais mostraram com os adeptos dos clubes ingleses durante a noite do jogo.
A política juntou-se à indignação, exigindo demissões do Governo de Costa por um festejo que terá consequências epidemiológicas “imprevisíveis”, segundo denunciou Francisco Rodrigues dos Santos, líder do democrata-cristão CDS.
O presidente do Futebol Clube do Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa, foi ainda mais contundente, pedindo a demissão do primeiro-ministro caso já não se considere “capaz”.
Portugal continua a proibir o público nos eventos desportivos nacionais e também as grandes aglomerações.
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