O Corpo de Polícia de Segurança Pública proibiu esta terça-feira, pelo segundo ano consecutivo, a vigília que recordava a memória das vítimas do massacre de 4 de Junho de 1989, ocorrido na Praça da Paz Celestial, em pleno coração de Pequim. A informação foi confirmada à agência Lusa por um dos organizadores do evento, o deputado Ng Kuok Cheong.
Um ano depois, a Polícia de Segurança Pública volta a evocar os mesmos motivos – as medidas de prevenção da Covid-19 – para impedir a realização de um evento que se realizou durante quase três décadas de forma ininterrupta, ainda que sem o mesmo impacto que as vigílias realizadas na Região Administrativa Especial de Hong Kong.
Macau não regista qualquer caso de contágio local por Covid-19 há mais de 400 dias e o quotidiano decorre praticamente sem constrangimentos, com escolas, universidades, cinemas, casinos, restaurantes, discotecas e autocarros – atafulhados – a operar normalmente. O território registou até ao momento 51 casos, a maior parte importados do exterior, e as autoridades têm vindo a apostar na revitalização do turismo e na atracção de turistas da República Popular da China ou na dinamização de grandes eventos desportivos.
Em declarações à agência Lusa, Ng Kuok Cheong mostrou-se conformado com a decisão das autoridades do território, mas lamenta que as autoridades mostrem duas faces no que toca à gestão de uma crise epidémica que nunca o foi verdadeiramente em Macau: “Se forem excluídos factores políticos, é um duplo padrão e totalmente irrazoável”, afirmou Ng Kuok Cheong. “A polícia decidiu finalmente não permitir o comício porque o tema do comício ofenderia o Governo ou a autoridade pública, e o por ser um obstáculo à saúde pública”, explicou o deputado, que foi ao longo dos últimos trinta anos um dos principais dinamizadores do certame.
Ng Kuok Cheong, que considera que a decisão de proibir a vigília tem a si inerentes decisões políticas, vão apresentar, o mais brevemente possível um recurso junto do Tribunal de Última Instância, por considerarem que a “a decisão da polícia é absolutamente irracional”.
A história repetida
Em 2020, a vigília de homenagem às vítimas do Massacre de 4 de Junho de 1989 foi proibida pela primeira vez em mais de três décadas, mas a organização decidiu organizar uma pequena cerimónia evocativa em instalações privadas.
A noite não terminou, no entanto, sem incidentes, com as forças da ordem a montarem um enorme aparato de segurança no Largo do Senado e a deterem duas jovens – filhas de Au Kam San, deputado pró-democracia que é também um dos promotores da vigília – e a apreender duas velas e um livro sobre Tiananmen.
Em Hong Kong, a possibilidade da vigília de 4 de Junho poder vir a ser proibida insinua-se pelo menos desde o final do mês passado. A 27 de Abril, as autoridades da antiga colónia britânica proibiu a utilização do Parque de Victoria, onde habitualmente se realiza o certame. O Governo liderado por Carrie Lam justificou a decisão com o mesmo argumento que é agora brandido pelas autoridades de Macau, a necessidade de prevenir eventuais focos de contágio de Covid-19.
A informação foi avançada pela RTHK, que cita um porta-voz do Departamento de Lazer e Serviços Culturais, que esclareceu que foi comunicado aos organizadores que a realização da vigília de 4 de Junho, não será permitida em Victoria Park, “tendo em conta a última situação do coronavírus”.
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