Foi implementada recentemente, no âmbito do combate à Covid-19, uma medida muito discutível e deveras preocupante quanto ao seu real interesse e sucesso na prática.Trata – se da venda livre nas farmácias de testes rápidos, sem que seja necessária qualquer requisição médica para os comprar.
Jorge Sales Marques/Pediatra
O preço varia entre os 9 e os 10 euros ou mais, dependendo muito da consciência de cada um dos directores técnicos em relação ao preço final de venda ao consumidor.
Esta decisão torna-se ainda mais perigosa porque não é isenta de riscos e a divulgação dos resultados dos testes depende da boa vontade e consciência de cada um, apesar do pedido das entidades competentes para a fazer, quer o resultado seja positivo ou negativo. Mas não havendo qualquer coima em relação a este procedimento, a decisão final é pessoal no que diz respeito à etapa seguinte: ou seja a transmissão da informação às entidades sanitárias.
A execução técnica é feita através de amostras da área nasal anterior interna. Há sempre o risco de provocar lesões mais profundas caso o utente espirre de forma espontânea pela estimulação da ponta da zaragatoa na mucosa nasal . Pode também dar azo a uma colheita imprecisa por parte da própria pessoa, levando a resultados incorrectos.
Estas técnicas de colheitas de amostras não são assim tão fáceis como o Governo tem feito parecer. Por este motivo, regra geral qualquer colheita nasal ou nasofaríngea é feita por outra pessoa .
Coloca-se também um problema real de saúde pública de que ninguém fala. Onde serão colocados os materiais utilizados nas colheitas? No lixo comum? Não são estas as orientações em relação aos materiais contaminados. E certamente vamos ter casos positivos nestas colheitas. Não existem apenas risco de contaminação por este vírus . Existem outros vírus nas fossas nasais que também podem provocar contágios, caso alguém esteja, por exemplo, com uma infecção respiratória alta .
Alguns países praticam venda livre de testes rápidos nas farmácias. É preciso saber copiar modelos doutros países e não a simples vontade de fazermos como os outros .
É preciso que haja sentido crítico e pensar em todos os passos e consequências antes de por em prática uma decisão com implicações na saúde pública. Um médico que lê um artigo científico, avalia se o que está lá escrito tem evidência clínica.
Não copiamos os modelos no passado recente de países ou regiões com resultados interessantes em relação a uma série de medidas sanitárias no controlo da pandemia. Pecamos por defeito .
Esta decisão de venda livre dos testes rápidos nas farmácias é precipitada e com consequências imprevisíveis pelas razões previamente apontadas .
Continuamos a não acertar com o passo certo. Uma vez mais!
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