À meia-noite, a enfermeira Inês Lopes e os seus colegas estão prestes a começar o turno nocturno para cuidar de pacientes numa unidade de tratamento intensivo de Covid-19 no centro de Lisboa. Inês adora a profissão, mas o salário mal dá para pagar as contas.
Políticos, celebridades e pessoas de todo Portugal têm elogiado os profissionais da saúde da linha de frente durante a pandemia de coronavírus, saindo à rua por vezes para aplaudir e saudar os trabalhadores.
No entanto, os profissionais do sector da enfermagem mal se conseguem manter no país por causa dos salários baixos e da falta de oportunidades de progredir na carreira, disse Lopes: “Os políticos dizem que somos os melhores do mundo, mas depois não há aumento de salário”, disse a enfermeira de 30 anos à agência Reuters no pequeno apartamento de dois quartos que divide com a irmã e um gato numa área residencial nos arredores de Lisboa.
“Aplaudir e agradecer não resolve nada”, disse, acrescentando que muitos colegas têm dois empregos para sustentar a família.
Há quase 45.500 enfermeiros no Serviço Nacional de Saúde (SNS), divididos em três categorias profissionais. Quase metade, incluindo Lopes, recebe 1.205 euros brutos por mês. Feitos os descontos, alguns recebem 980 euros, só 315 euros acima do salário mínimo, de acordo com a Ordem dos Enfermeiros.
O governo socialista “descongelou” a progressão de carreira no sector público em 2018, mas um enfermeiro pode levar uma década para obter pontos suficientes para um aumento de salário à luz do sistema actual.
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