
Estamos a 9 de Novembro de 2020. Oito meses depois de ter sido detectado o primeiro caso positivo de Covid-19 em Portugal, a Direcção Geral de Saúde (DGS) e o Governo aprovaram a utilização obrigatória de máscara na via pública, embora com excepções. Já tive oportunidade de me opor a algumas destas medidas noutro artigo de opinião pela manipulação frequente da máscara, que é completamente desaconselhada.
Jorge Sales Marques/Pediatra
Foi aprovado – e bem – há dias na Assembleia da República, o controlo da temperatura à entrada de locais públicos e privados, bem como os testes rápidos à entrada dos lares. Porém, a pergunta que faço é simples: Porque só agora?
Mais uma vez, aplicaram estas novas medidas apenas e tão só depois dos casos terem aumentado exponencialmente. Há muitos meses que em vários países e regiões o controlo de temperatura é usado para rastreio, entre outras medidas. Tive a oportunidade de afirmar em várias entrevistas no início da pandemia que 40 por cento dos casos em Macau foram detectados por este método. Estas medidas há muito que são utilizadas para controloar a entrada de turistas em diversas cidades. Apenas para relembrar o que foi feito em Macau, território que em 2019 recebeu 40 milhões de visitantes e onde foram identificados até agora 46 casos positivos de Covid-19 (10
na comunidade e 36 importados), nenhuma morte , nenhum profissional de saúde doente. Há meses – 136 dias – que não se regista nenhum caso novo.
Quando, a 22 de Janeiro de 2020 foi registado o primeiro caso, as medidas foram alargadas de imediato . Passo a descrevê-las:
1 – Mediram a temperatura corporal de todos os visitantes e pessoas em edifícios e locais públicos e privados. Em Portugal esta medida só agora foi adoptada.
2 – Começaram a distribuir máscaras cirúrgicas à população (incluindo crianças dos 3 aos 8 anos).Em Portugal é obrigatório o seu uso a partir dos 10 anos.
3 – Prestaram muitas informações à população sobre como usar máscara e lavar as mãos, um gesto que é aconselhado por menos durante 20 segundos.
4 – Informaram a importância de se evitar a superlotação em espaços fechados, bem como a utilidade de se manter uma distância de pelo menos dois metros entre cada pessoa .
5 – Pediram às pessoas que ficassem em casa e cumprissem isolamento voluntário.
6 – Conduziram o teste de despistagem à Covid-19 para os casos suspeitos, os seus familiares e contactos. Sempre! Esta é a melhor forma de cortar com as cadeias de transmissão . Em Portugal é só perguntar às pessoas infectadas até à data se os seus contactos próximos fizeram teste de rastreio. As respostas seriam: em poucos ou nenhuns casos.
7 – Realizaram o programa de actualização para profissionais de saúde da linha de frente.
8 – Adquiriram mais equipamentos de protecção individual (EPI) e ventiladores.
9 – A “equipa suja “que está na linha de frente é trocada por outra equipa a cada catorze dias e os profissionais de saúde fazem quarentena nos quartos do próprio hospital.
10 – Ninguém entra em Macau sem ter feito o teste de despistagem à Covid 19.
Face aos primeiros casos registados em Macau, foram imediatamente tomadas medidas preventivas. A prevenção tem apenas interesse quando é feita com antecipação. É aí que se ganha tempo. Ao prevenirmos apenas depois de o inimigo estar amplamente instalado no nosso território, estamos perante estratégias de falsa prevenção: o inimigo já está infiltrado nas nossas fileiras e é muito mais difícil eliminá-lo .
Depois dos excelentes exemplos e resultados de outros regiões, acrescido pela experiência da primeira vaga, não se entende porque só agora as autoridades portuguesas tomaram estas decisões. Todos têm presente como os turistas chegaram a Portugal sem qualquer controlo à entrada. Por favor, ouçam as pessoas. Vejam com olhos de ver os resultados de outros países ou regiões. Mas façam-no com coragem e com determinação, jogando na antecipação e apostando na verdadeira prevenção. Façam mais testes à população e a todos os contactos. Na Eslováquia, com 5.5 milhões de habitantes conseguiram rastrear metade da população num único dia. Nós também conseguimos, se assim o quisermos. Mas meus caros, apostem numa verdadeira prevenção. Uma que não aconteça apenas oito meses depois. Até quando vamos continuar a dormir sobre uma realidade que já dura há 11 meses? A solução para este problema depende, em muito, da inteligência dos governantes na promoção antecipada de medidas preventivas, bem como na responsabilidade dos cidadãos no que toca ao seu cumprimento.
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