Portugal. Vídeo de Costa a chamar médicos de “cobardes” provoca tempestade política

A divulgação de um comentário privado do primeiro-ministro português, António Costa, no qual descreve os médicos como “cobardes” devido a uma reacção sobre um surto de COVID-19 num lar do Alentejo colocou o grupo contra o Governo e provocou uma tempestade política no país.

“O presidente da ARS (Administração Regional da Saúde) mandou para lá os médicos para que fizessem o que lhes competia e os gajos, cobardes, não fizeram”, disse Costa no vídeo, de apenas sete segundos, que se espalhou rapidamente pelas redes sociais, tendo sido também divulgado pelo partido de extrema-direita Chega.

A gravação corresponde a uma conversa confidencial com jornalistas do jornal “Expresso” mantida após uma entrevista e na qual Costa fala sobre o surto de COVID-19 detectado em Reguengos de Monsaraz (Alentejo), que deixou 162 positivos e 18 mortos, 16 deles num lar de idosos da localidade.

A reacção não se fez esperar, com a Ordem dos Médicos a pedir  uma audiência urgente com o primeiro-ministro e a convocar o Fórum Médico, que integra todas as organizações profissionais do sector no país.

“Estas afirmações, independentemente de que sejam proferidas de forma pública ou em privado, mostram um espírito ofensivo para os médicos e um sentimento negativo por uma classe profissional”, afirma a Ordem em comunicado.

O jornal “Expresso” condenou a difusão deste “vídeo ilegal” e anunciou uma investigação para esclarecer responsabilidades: “Uma gravação amadora de um ecrã de computador, que reproduz uma recolha de imagens de uma conversa ‘off the record’, privada, do primeiro-ministro com jornalistas do ‘Expresso’; foi divulgada nas redes sociais sem autorização nem conhecimento deste jornal”, assinala a direcção do Expresso num comunicado partilhado no seu site.

A polémica saltou para o campo político, com a direita a unir-se nas suas críticas contra o primeiro-ministro. Os social-democratas do PSD acusam Costa de “condicionar” as investigações e pedem explicações sobre o caso de Reguengos.

“Manteve a ministra (Ana Mendes, do Trabalho e Segurança Social) e não pediu desculpas às famílias que perderam os seus entes queridos”, escreveu por sua vez Francisco Rodrigues dos Santos, o presidente do democrata cristão CDS, nas redes sociais.

A Iniciativa Liberal acusa os socialistas de “prepotência”: “Sempre que há tragédias, o Governo confronta, nunca assume responsabilidades, nunca vê em que falhou e como corrigir”.

O Chega, de extrema-direita, critica a “absoluta falta de decência, tolerância democrática e de respeito” de Costa para com os médicos e pede uma “forte reprimenda” por parte do presidente do país, Marcelo Rebelo de Sousa, ao primeiro-ministro.

Na entrevista publicada este fim de semana pelo “Expresso”, António Costa admite que houve erros em Reguengos, mas ressalta que o lar é “de uma fundação privada” e defende que, quando foi informado da situação, “o Estado reagiu imediatamente”.

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