Covid-19. Variante actual do coronavírus é mais contagiante que a original

A variante do SARS-CoV-2 actualmente dominante infecta células com mais facilidade do que a que apareceu na República Popular da China, o que provavelmente o torna mais contagioso entre os seres humanos. A informação ainda necessita de ser confirmado com novos estudos, revelam as conclusões de uma investigação publicada na quinta-feira na revista Cell.

“É possível que o vírus se propague melhor e possa ser mais transmissível, mas ainda estamos numa etapa em que estamos a tentar confirmar isso. Existem geneticistas e virologistas muito bons a trabalhar neste aspecto”, disse Anthony Fauci, director do Instituto de Doenças Infecciosas dos Estados Unidos à revista Jama, esta quinta-feira.

Depois de deixar a China e entrar na Europa, uma variante do novo coronavírus, que constantemente sofre mutações – como qualquer vírus – tornou-se dominante e foi essa versão europeia que se estabeleceu nos Estados Unidos. A variante chamada D614G refere-se a uma única letra do DNA do vírus, a parte do DNA que controla a entrada nas células humanas.

Os investigadores estão a rastrear mutações genéticas no coronavírus em todo o mundo. Os que sequenciam o genoma do vírus compartilham-no num banco de dados internacional (GISAID), uma biblioteca onde estão registadas mais de 30.000 sequências até ao momento.

O novo estudo, conduzido pelas Universidades de Sheffield e Duke e pelo Laboratório Nacional Los Álamos, concluiu em Abril que a variante D614G é dominante. Mais tarde, as três entidades determinaram que a mutação tornava o vírus “mais transmissível”.

Os resultados do estudo já tinham sido publicados on-line, numa plataforma de pré-publicação científica.

A afirmação foi criticada na altura, uma vez que a equipa não demonstrou que a mutação tenha sido a causa que fez com que a estirpe se tenha tornado dominante. A versão do vírus pode ter tirado proveito de outros factores e a sua preponderância pode, até, ser fruto do acaso.

Devido às críticas, os cientistas conduziram trabalhos e experiências adicionais, a pedido dos editores da publicação especializada Cell.

 Um vírus mais eficaz?

Os investigadores analisaram, em primeiro lugar, dados de 999 pacientes britânicos hospitalizados com COVID-19 e observaram que aqueles com a variante em questão tinham mais partículas virais, embora essa circunstância não tenha alterado a gravidade da doença.

Por outro lado, experiências conduzidas em laboratório mostraram que a variante é três a seis vezes mais capaz de infectar células humanas: “Parece provável que estejamos perante um vírus mais eficaz”, diz Erica Ollmann Saphire, que conduziu uma das experiências laboratoriais no Instituto de Imunologia La Jolla.

No entanto, uma experiência in vitro não pode reproduzir a dinâmica real de uma pandemia. Portanto, a conclusão mais estrita é que, embora o coronavírus actualmente em circulação seja provavelmente mais “infeccioso”, não é necessariamente mais “transmissível” entre humanos.

Qualquer que seja o cenário, “esta variante é agora a pandemia”, diz Nathan Graubaugh, da Universidade de Yale, num outro artigo publicado recentemente.

“O D614G não deve  contribuir para que as medidas de restrição sejam alteradas ou contribuir para que as infecções individuais piorem”, acrescenta.

A conclusão dos especialistas é que “estamos a testemunhar um trabalho científico em tempo real: essa é uma descoberta interessante que afecta potencialmente milhões de pessoas, mas cujo impacto final ainda não é conhecido. Descobrimos o vírus há seis meses e aprenderemos muito mais nos próximos seis meses “, concluem os investigadores.

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