Contra-sínodo em Roma crítica visão papal sobre a Amazónia

Fotografia: D. Bertrand de Orleans e Bragança fotografado no Hotel Quirinale, em Roma.

Uma centena de católicos ultraconservadores críticos do Papa Francisco, a quem acusam de seguir os princípios progressistas da Teologia da Libertação, que dizem propagar “ódio” e “mentiras”, reuniram-se este sábado em Roma. O encontro é visto como uma espécie de contra-sínodo sobre a Amazónia.

“Lamento que, para o sínodo que vai ser inaugurado neste domingo, não tenha sido convidado nenhum indígena que pense de forma diferente da forma como pensam esses missionários”, disse à AFP o indígena brasileiro Jonas Marcolino, à margem de um encontro realizado numa elegante unidade hoteleira da capital italiana.

Marcolino, pertencente ao grupo étnico Macuxi, da região de Roraima, defende “o capitalismo e o progresso”: “Vim aqui para dizer que os povos indígenas querem liberdade económica, dignidade humana, querem trabalhar, crescer e ser respeitados”, afirmou perante uma plateia de pouco mais de uma centena de pessoas, entre elas o cardeal norte-americano Raymond Burke, que lidera o sector ultraconservador contrário às reformas de Francisco.

“O que a Igreja pede na nossa região é que odiemos o branco, que se proíba a abertura de estradas, de electricidade. Mostra ódio e não pode ser assim”, afirma Marcolino, numa referência à corrente teológica que, no seu entender, se apoia “no marxismo e no antagonismo entre as classes sociais”: “Falo sobre os efeitos desta teoria, porque os resultados não são bons”, sustenta Marcolino, que estudou direito internacional e ambiental e lidera a Associação de Defensores dos Indígenas do Norte de Roraima.

As críticas às propostas do encontro de três semanas convocado pelo Papa no Vaticano roubam a atenção dos objectivos do sínodo, que deseja mobilizar o mundo em defesa da Amazónia e dos seus habitantes.

Ultraconservadores contra-atacam

Os ataques partem principalmente dos sectores mais conservadores, entre eles do aspirante ao trono do Brasil, Dom Bertrand de Orleans e Bragança, de 80 anos, príncipe de um regime monárquico extinto em 1889 e católico fervoroso.

“O sínodo não é proporcional à realidade nem aos factos objectivos”, afirma Dom Bertrand, simpatizante da ultraconservadora associação católica Tradição Família e Propriedade: “Somos contra o comunismo e queremos evitá-lo na nossa pátria (…) Respeito este Papa, rezo por ele, mas sobre o clima e a Amazónia o papel da Igreja não é opiniar. A sua missão é salvar almas.”

“Isso de que se deve proteger os índios da floresta, porque são puros, para que não sejam contaminados pelo capitalismo, o egoísmo e o desejo de lucro, é o contrário do que querem os próprios índios”, afirma o descendente do imperador Dom Pedro II. D. Bertrand sonha com a re-introdução da monarquia.

“A maioria dos índios do Brasil já estão integrados. O que se quer é mantê-los na escravidão (…) A Teologia da Libertação traz muitos males para o Brasil”, defende o líder monárquico.

O sínodo no Vaticano, do qual tomam parte cerca de 260 participantes, entre elas todos os prelados dos nove países que compõem a Bacia Amazónica, discutirá a evangelização naquele território, a protecção do meio ambiente, a luta contra as mudanças climáticas, o desmatamento e o direito dos povos indígenas de proteger as suas terras e tradições: “Isto de que o pulmão do mundo está a ser incendiado é falso”, afirma Dom Bertrand. O aspirante ao extinto trono brasileiro cita especialistas e outros convidados do encontro em Roma, entre eles Luiz Molion, que nega que a imensa região sofra com as mudanças climáticas ou corra o risco de desertificação.

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