Faleceu Gastão de Barros, antigo presidente da Câmara Municipal das Ilhas

Gastão Humberto Barros, antigo presidente da Câmara do extinto Concelho das Ilhas no conturbado período que se seguiu ao levantamento do 1,2,3, foi esta sexta-feira cremado na República Popular da China. O antigo director-substituto da Repartição dos Serviços de Administração Civil, faleceu no domingo aos 89 anos de complicações associadas à doença de Alzheimer.

Autarca da Taipa entre 1967 e 1974, Gastão Humberto Barros deu um contributo decisivo para a normalização das relações entre a comunidade chinesa e a comunidade de matriz portuguesa durante um dos períodos mais conturbados da história do território, os meses que se seguiram ao Motim do 1,2,3.

Os acontecimentos do “Outono quente” de 1966 surpreenderam Gastão de Barros em Lisboa, para onde tinha sido enviado pela administração colonial do território para cursar administração pública no então Instituto Superior de Estudos Ultramarinos.

Descontente com a forma como o administrador-interino da Taipa, Rui de Andrade, lidou com a situação que esteve na origem do levantamento popular de 3 de Dezembro, o Ministério do Ultramar ordenou o regresso de Gastão Humberto de Barros ao território com uma missão bem definida, serenar os ânimos inflamados pelos ventos revolucionários que sopravam de Pequim: “O meu pai era um apaziguador. Foi o meu pai, na qualidade de presidente da Câmara Municipal das Ilhas, que ajudou a serenar o mal-estar que se instalou entre as duas comunidades. Tanto é que, aquando da inauguração da Estrada do Istmo, pouco mais de um ano e meio depois do levantamento, o governador Nobre de Carvalho é recebido por uma grande multidão e entre os que o receberam, de bandeira portuguesa na mão, estavam alguns dos instigadores do 1,2,3”, recordou Gastão Humberto Barros Jr., filho do antigo autarca, em declarações ao semanário “O Clarim”.

Foi durante os anos que Gastão Humberto Barros esteve à frente dos destinos das ilhas que a Taipa e Coloane se libertaram do isolamento a que estiveram votadas durante séculos, graças a um ambicioso plano de construção de infra-estruturas que visava, sobretudo, sanar as feridas abertas na recta final de 1966.

Durante os sete anos que mediaram entre o levantamento popular e o final do regime dictatorial português foram construídas estruturas como a Ponte Nobre de Carvalho, o Istmo Taipa-Coloane ou os reservatórios de Sete Tanques, obras que propiciaram a modernização e o desenvolvimento da Taipa: “Uns dias antes da inauguração da Ponte Nobre de Carvalho, já depois do 25 de Abril, foi promovida uma cerimónia para assinalar o fim das obras. O meu pai foi convidado a colocar as últimas pazadas de betume do lado da Taipa. O Joaquim Morais Alves, presidente da Câmara Municipal de Macau, fez o mesmo do lado da península. Este foi sempre um dos momentos que o meu pai evocou com maior orgulho”, explica Gastão Humberto Barros Jr.

Para além de Presidente da Câmara Municipal das Ilhas, Gastão de Barros foi ainda, na recta final da década de 70, administrador do concelho de Macau e director-substituto da Repartição dos Serviços de Administração Civil, o organismo que antecedeu a actual Direcção dos Serviços de Admnistração e Função Pública.

Gastão Humberto Barros fazia ainda parte do grupo de jovens que em 1948 fundou, com o apoio dos padres Júlio Massa e Fernando Maciel, o semanário católico “O Clarim”.

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