Índia. Dos rumores falsos aos linchamentos fortuitos

Três pessoas foram linchadas por multidões no estado indiano de Tripura, na sequência de rumores colocados a correr no serviço de mensagens instantâneas WhatsApp. Os incidentes não tiveram qualquer relação entre si. Nos últimos meses, 25 pessoas foram mortas em episódios do género registados um pouco por toda a Índia.

As autoridades no estado indiano de Tripura, no nordeste da Índia, cortaram o acesso à Internet, depois de multidões enfurecidas terem linchado três pessoas na sequência de rumores difundidos através de aplicações para o telemóvel, explicou um porta-voz da polícia estadual.

Os incidentes são os mais recentes numa negra série de episódios do género. Duas dezenas e meia de pessoas foram mortas nos últimos meses um pouco por toda a Índia, depois de informações falsas terem sido colocadas a circular no serviço de mensagens electrónicas WhatsApp.

O Governo decidiu cortar o acesso à Internet e aos serviços de mensagens de texto por um período de 48 horas para evitar a circulação de rumores”, disse Smriti Ranjan Das, porta-voz da polícia de Tripura, um estado dominado por tribos e povos indígenas.

As últimas vítimas – entre as quais um funcionário público colocado no terreno pelo Governo para alertar as pessoas contra rumores e informações falsas – foram mortas na quinta-feira, em três incidentes sem qualquer relação.

Dezenas de pessoas em Sabroom, a cerca de 80 quilómetos da capital estadual, Agartala, atacaram Sukanta Chakraborty com paus e com pedras enquanto o funcionário estudual procurava alertar as pessoas com um megafone para os perigos de difundir falsos rumores. As autoridades de Tripura não conseguem explicar ao certo o que suscitou o ataque. Das disse que a vítiuma morreu no local e o seu condutor ficou ferido num ataque com contornos brutais que se prolongou por quase uma hora: “Foi um ataque inesperado e completamente desumano e eles não tiveram tempo de escapar. Quando os nossos agentes chegaram ao local já só conseguiram salvar o condutor”, explicou o porta-voz da polícia.

Horas antes, na região ocidental de Tripura, uma multidão constituída por quase um milhar de pessoas atacou quatro comerciantes oriundos da zona norte do Estado de Uttar Pradesh, matando um e deixando os outros criticamente feridos. Os quatro refugiaram-se no interior de instalações paramilitares depois de centena de pessoas que os confundiram com sequestradores de crianças se terem lançado em perseguição ao veículo em que seguiam.

Apesar de terem procurado abrigo nas instalações paramilitares, a multidão invadiu a base, retirou as vítimas de dentro da viatura em que viajavam, atacando-os à paulada. O ataque resultou na morte de um dos comerciantes, que a polícia identificou como Zahir Khan. Os três restantes negociantes ficaram feridos com gravidade, o mesmo acontecendo com um soldado que tentou travar o ataque.

Horas antes, na mesma zona, uma multidão tinha morto em semelhantes circunstâncias uma mulher que tinha sido vista a caminhar sozinha nas imediações de uma escola primária. A vítima, na quase dos 40 anos, foi espancada e arrastada até à morte pelas ruas da localidade, à medida que uma turba enfurecida ia gritando “morte aos sequestradores de crianças”, informou a Polícia.

As autoridades policiais não conduziram qualquer detenção, mas adiantaram que estão a interrogar vários suspeitos. O Ministro-chefe do Estado de Tripura, Biplab Deb, avisou através das redes sociais que o Governo tenciona tomar medidas severas contra quem espalha rumores e notícias falsas. Deb acusou os seus adversários políticos de alimentarem e disseminarem os rumores com o propósito de criarem instabilidade e abrir caminho ao seu afastamento.

As autoridades indianas bloqueiam com alguma frequência o acesso à Internet ou aos serviços telefónicos móveis em situações voláteis como motins de natureza religiosa com o propósito de travar a divulgação de informação que possa intensificar os problemas. A Índia tem mais de mil milhões de utilizadores de telemóvel, dos quais 478 milhões têm acesso a serviços de Internet móvel.

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